MURAL DE RECADOS

Xavier Jr.

Em tempos de carnaval, não poderia ser mais oportuno o fato que acabo de protagonizar... uma situação bem peculiar, leia-se: alegórica.

Voltando do almoço, preparando-me para estacionar o carro, avisto de longe um menor de rua, ops! digo, um “jovem em situação de risco”, terminologia politicamente mais correta (contraditória em um país politicamente incorreto) dentre várias, a conclusão que me veio, foi a de que o mesmo iria pedir-me “uma ajuda” ...

E, já sentindo-me culpado pelo almoço, pelo veículo...

Desço do carro, e, antecipando-me, abro a carteira na iminência de buscar “um trocado”, eis que o infante interpela-me: “O senhor não tem um celular velhinho ou sem bateria pra me dar?” o mesmo montou em sua pequena bicicleta e foi-se desanimando quando mostrei-lhe que o celular velhinho e sem bateria que eu tinha era o mesmo e único que eu usava.

E, aqui, faço um convite aos Sociólogos, Filósofos, Juristas... Foliões presentes nessa rede social a uma reflexão sobre esse fato. Como explica-lo? Qual os seus antecedentes? Qual as suas consequências mais prováveis? Seria a era da miséria digital ou da digitalização da miséria?

Enfim, não demora muito e, talvez, esse mesmo cúpido, também protagonista desse fato, irá responder-me: “quando o senhor não quiser mais esse celular manda-me uma mensagem pelo facebook.”